domingo, 25 de julho de 2010

Faz de Conta

Vasculhando como sempre, mais e mais textos perdidos no emanharado de páginas da internet como adoro fazer, sempre esbarro na minha escritora favorita Martha Medeiros. Tenho vários livros dela, publico sempre os contos que mais me tocam, indico sempre que assistam o filme O Divã que é divino, enfim, sou suspeito para falar desta gaúcha que eu ainda vou descobrir qual é a ligação que temos, porque não é possível um homem sentir-se tão sensível e franco quanto esta mulher e o Chico Buarque que me perdoe.

De repente encontro alguém na internet que curte os mesmos textos, as mesmas tiradas. Trocamos uma idéia, tudo funciona, tudo dá liga e depois? Depois não importa, o que importa é agora... Ledo engano. Quem não se importa em programar as próximas férias, por mais que sejam na Praia Grande está mentindo. Qual o casal que espera para decorar o quarto do bebê no dia do seu nascimento? Ah, uma banana em caixa alta para quem não pensa no futuro, é da natureza humana.

Assim, encontrei na net um texto da minha "ídola" entitulado Faz de Conta,  que retrata perfeitamente esta nossa não importância por várias coisas, quando na verdade estamos já com a ponta dos dedos sangrando de tanto roer o que sobraram das unhas de tanta ansiedade. Eu mesmo assumo que um dos meus maiores defeitos é a ansiedade, só não roo as unhas porque acho meio anti-higiênico, rsrsrsr... Deliciem-se com o texto.

Beijo,

Faz de Conta


Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: FAZ DE CONTA QUE EU TE ODEIO

Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: FAZ DE CONTA QUE EU TE AMO.


Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: FAZ DE CONTA QUE EU DOU CONTA DO RECADO.


Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO QUERO.


Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto:FAZ DE CONTA QUE EU ME IMPORTO.


Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO SOFRO.


Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: FAZ DE CONTA QUE EU ENTENDO.


Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: FAZ DE CONTA QUE EU COZINHO.


Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy:FAZ DE CONTA QUE NÃO DÓI.

Martha Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário